26.5.10

Olha aqui, vem pra cá, sem sentir, sem saber, só gozar...

Uma das melhores fotos da vida do senhor Kbça Corneti


“Suas principais ações são: a prevenção setorizada, com intensificação ou saturação localizada de policiamento, repressão ao crime organizado ou em locais com alto índice de crimes violentos, ocorrências de vulto, eventos de importância, controle de tumultos de pequenas dimensões e ações para restauração da ordem pública que não justifiquem a mobilização do efetivo do Batalhão de Choque”

O Hierofante Púrpura fazia sua apresentação tensa/extasiada/provocativa/performática na rua quando olhei para trás. Eram três viaturas, algumas motos e um ônibus. Somando o número de policiais, da Força Tática, e guarda municipal, mais de 30 homens que zelam (ou deveriam) pela segurança da cidade de Mogi das Cruzes.

Ainda deu tempo de tocar mais uma música, antes de eu pedir “Sujeito Oculto” – um abraço pro pessoal do Gigante Animal, mas na verdade eu queria “Sujeito Sem Brio”. E quando estava prestes a ser correspondido, um tal da Força Tática mogiana se aproximou e disse algumas palavras para os músicos que, mesmo eu não tendo escutado (e até hoje não sei qual foi o conteúdo), tocou na alma. Era visível o desanimo de Danilo Sevali, baixista e vocalista do Hierofante. Foi proibido de levar cultura para sua cidade, para sua terra.

“Ela [Força Tática] tem poder para punir os infratores, e também deve inibir e desestimular atitudes anti-sociais”. Afinal, é necessário questionar a função da Guerrilha Gerador? É preciso duvidar que no momento da apresentação, haviam cerca de 100 pessoas tranquilas, preocupadas em ouvir música e se socializando? Agora Força Tática combate a socialização também?

Dias após o ocorrido, ainda procuro respostas. O local escolhido para ligar o gerador e fazer música – nada mais do que música! – era uma avenida que havia recebido um evento artístico minutos antes, sem residências próximas que pudessem ser afetadas com o som às 2h da manhã. A energia era retirada de um gerador particular. O show foi na calçada, sem atrapalhar os carros (mesmo que esta rua estivesse fechada)... eu ainda quero entender.

Poucos metros dali, uma garota havia sido atropelada. O motorista fugiu sem prestar socorro. A Força Tática também não prestou socorro. No caminho de volta até meu carro, pelo menos três veículos haviam sido arrombados. Preciso dizer se alguém foi preso?

Apesar da falha evidente na organização da Virada Cultural em pouco dar atenção para a música independente, não consigo acreditar que a Guerrilha Gerador foi repreendida por reclamação de alguém que fazia parte do evento.

Para entrar também em um questionamento de até onde vai a função de um Policial a conversa, ou melhor, o texto vai longe. Fácil e rápido é entender a importância e a obviedade social que uma banda tocando na rua (ou um mágico na rua; ou teatro na rua; ou cinema na rua; ou palhaços na rua...) traz. Reprimir o direito a cultura só aumenta o desejo por mais cultura. E apesar do gozo interrompido naquela noite, o final da história ainda não foi contado.